Ei-los que partem
Muitas vezes sentimos um vazio por alguém que se foi,
imaginamos a volta, o regresso, seria uma viagem de breve retorno...
A verdade é um sono profundo, que não possui sonhos.
-Parece que estou eternamente esperando, ingenuamente! -Ou
estou sendo esperada?!
Meu coração têm tanta fé e esperança, mas a canalha da razão
arrasa o meu coração quando diz: - A passagem foi só de ida, não existe
regresso para os teus. Ei-los que partem, diga apenas adeus e até breve!
Choro sem conter-me, meu travesseiro é lenço, consolo e quem
sabe, um abraço confortável de um amigo mudo, mas não surdo, pois eu confesso a
minha saudade ao pé do seu ouvido.
-Será que existe uma estação de trem do outro lado? Estaria
eu, quem sabe, sendo aguardada?! -Eu me sinto inquieta com essa falta amarga e
exagerada, dolorida das idas, das partidas sem voltas e sem adeus dos meus!
Ei-los que partem e, logo, também irei; espero encontrá-los,
se não, continuarei perdida na eterna e ingênua espera de quem partiu e levou
uma parte que não é preenchida, apenas ludibriada. Então a alma chora, o
coração pede consolo...
Dias passam, mas a esperança sobrevive de promessas bíblicas
que firmemente confio, eu creio em DEUS!
Sou uma locomotiva, a vida são os trilhos e meus vagões são
tudo que eu levo. Tenho um vagão exclusivo só para saudade e como está
carregado e pesado, é um fardo!
Ei-los que partem, mas me deixam à parte de onde realmente
vão.
Presentes estão os ausentes: as vozes, os rostos, um cheiro,
uma palavra dita, um afago que foi bem-vindo... Só nunca ouvi um adeus ou um
até breve!
Lágrimas descem, pois o meu coração transborda, a tristeza
me afoga, quem poderá me livrar da morte?
A locomotiva ainda tem muitas estações para percorrer, creio
que a última, vou descarregar o vagão da saudade, e será em um jardim florido,
perfumado, do céu azul e de pequenas nuvens; essa é a minha estação florida e
daqueles que partiram. Não haverá adeus ou até breve, somente: - Senti tanto a
sua falta, querida filha, querida cunhada, minha amiga...
Quando a locomotiva parar na estação, as janelas serão cobertas
de borboletas coloridas e ouvirei pássaros louvando!
Não será um dia como outro, mas de reencontros; não haverá
mais despedidas, mas um júbilo.
Ei-los que partem, até breve! Um dia, a gente se encontra na
estação florida!
No momento que eu escrevo, vejo uma borboleta amarela do
lado de fora da janela, ouço um pássaro, relembrando-me de que um belo dia ele
louvará em um coral.
"Ei-los que partem" e a saudade contida fica sem
adeus ou até breve, aguardando-me, quem sabe na próxima curva?
Lucy Coelho